Como as cidades podem se adaptar à mudança climática

| Relatório

As cidades estão na linha de frente dos crescentes riscos físicos associados à mudança climática1. Elas abrigam mais de metade da população mundial e, até 2050, esse número deverá chegar a 68%2. As áreas urbanas normalmente estão localizadas em locais de risco climático específico, como litorais, planícies de inundação e ilhas. Além disso, a infraestrutura urbana moderna e seus sistemas operacionais estão intimamente ligados. Uma falha em parte de uma rede pode afetar outra, multiplicando o dano. Vias inundadas, por exemplo, podem danificar ligações com o transporte público. Tempestades e calor extremo podem causar quedas de energia que derrubam sistemas de tecnologia críticos para residências, hospitais e indústrias.

Dadas as atuais emissões de gases do efeito estufa, já é certo que haverá mudança climática em algum nível, tornando os riscos inevitáveis. Para proteger as vidas e a subsistência dos moradores das cidades, é necessário se adaptar e começar agora. A mudança climática (em inglês) cpode aumentar a gravidade e a frequência de calor extremo, enchentes, secas e queimadas, riscos específicos tratados neste relatório3. Mais de 90% de todas as áreas urbanas são costeiras e até 2050 mais de 800 milhões de moradores dessas áreas poderão ser afetados pelo aumento no nível dos oceanos e por inundações costeiras4. Além disso, 1,6 bilhão de pessoas poderão estar vulneráveis a calor extremo crônico (de 200 milhões hoje) e 650 milhões poderão enfrentar falta de água5.

Pelo fato de diferentes cidades enfrentarem diferentes riscos climáticos e terem níveis variados de vulnerabilidade, as opções de adaptação que são eficazes para a maior parte podem não ser viáveis em outras. Para gerenciar essa complexidade, as cidades podem se concentrar nas ações em jogo para seus pontos fortes (recursos, características e ativos físicos e controle jurisdicional) e oferecer um alto retorno em redução de riscos. Identificar essas adaptações de alto impacto pode ser desencorajador considerando a natureza de constante evolução da ameaça climática e a imensa variedade de opções de adaptação disponíveis.

Este relatório, de coautoria com líderes do Grupo C40 de Grandes Cidades para Liderança do Clima (uma rede de grandes cidades comprometidas em enfrentar a mudança climática), busca ajudar líderes a definir prioridades e escolher os melhores planos de ação. O relatório identifica uma lista inicial de 25 ações de alto potencial que podem funcionar para muitos tipos de cidades. As ações foram escolhidas com base em três principais fontes: análise do C40 e da McKinsey, consulta a especialistas em adaptação e líderes de cidades e avaliação aprofundada da literatura.

O relatório é dividido em duas partes. A primeira define as 15 ações. Quatro delas criam resiliência sistemática, o que significa que fortalecem todos os tipos de cidades. As outras 11 são riscos específicos, o que significa que podem focar em riscos climáticos específicos. Algumas das 15 ações, como construir barreiras para proteger áreas costeiras e renovar infraestrutura, são complexas e caras. Outras, como plantar árvores próximas a ruas e iniciar programas de mudança comportamental para economia de água, não são. Exemplos de todo o mundo, tanto de países desenvolvidos quanto de países em desenvolvimento, demonstram o que é possível.

A segunda parte deste relatório descreve, em termos gerais, como as cidades podem implementar as ações. Sugerimos que elas comecem definindo os riscos mais relevantes e entendendo quais são esses riscos para suas comunidades. Neste sentido, as cidades podem realizar análises detalhadas de impacto de redução de riscos, custos e viabilidade de diferentes ações.

Vários temas importantes surgem dessa pesquisa. Em primeiro lugar, soluções sustentáveis (como plantio de árvores próximas a ruas, drenagem de rios e soluções de drenagem urbana sustentável) estão entre as ações mais atrativas devido a seu impacto na redução de riscos e sua viabilidade. Soluções sustentáveis também costumam oferecer benefícios além da adaptação em áreas como descarbonização, crescimento econômico e saúde6.

Em segundo lugar, as cidades podem investir em ações que aumentem a resiliência sistemicamente, além de adaptar-se a riscos específicos e imediatos. A resiliência sistêmica inclui o aumento da conscientização sobre riscos climáticos físicos, a incorporação da conscientização sobre riscos e prontidão para os processos das cidades, a otimização para respostas de emergência e a melhoria de programas financeiros e de seguros.

Em terceiro lugar, há um elemento importante de igualdade para a adaptação ao risco climático. Populações vulneráveis, como crianças, idosos, baixa renda, alguns grupos minoritários, deficientes e mulheres, podem estar em maior risco de sofrer danos de ordem climática. Por exemplo, a rápida urbanização está levando cada vez mais pessoas a assentamentos informais7. Elas não têm recursos e capacidade de se adaptar para resistir a grandes eventos, como enchentes e calor extremo.


O risco climático afeta diretamente pessoas (saúde, subsistência e empregabilidade), ativos (empresas, lares e hospitais) e serviços (fornecimento de energia e alimentos). Este relatório pode servir como um ponto de partida para ajudar as cidades a desenvolver suas agendas para adaptação. Os líderes precisarão se aprofundar ao elaborar suas estratégias e o conhecimento local é crítico para ter sucesso.

Ao mesmo tempo, a adaptação climática é uma das muitas prioridades concorrentes e os recursos urbanos são limitados. Ao identificar as ações mais eficazes e viáveis, as cidades podem focar em executá-las bem e construir o ímpeto para fazer mais. Este relatório é uma provocação, com foco na ação. Esperamos que ele ajude as cidades a desempenhar um importante papel no progresso mais rápido e certo para um futuro saudável e sustentável.

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