Abordando os desafios de saúde comportamental sem precedentes enfrentados pela Geração Z

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Quase dois anos após o início da pandemia da COVID-19 nos Estados Unidos, a Geração Z – que abrange desde estudantes do ensino médio até profissionais em início de carreira – reporta taxas mais altas de ansiedade, depressão e estresse do que qualquer outra faixa etária1. Os desafios de saúde mental dessa geração são tão preocupantes que o cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek Murthy, emitiu uma nota de recomendação de saúde pública, no dia 7 de dezembro de 2021, com o intuito de abordar a “crise de saúde mental dos jovens” exacerbada pela pandemia da COVID-192.

Uma série de pesquisas e entrevistas com consumidores conduzida pela McKinsey revela grandes diferenças entres as gerações, sendo que a Geração Z declara ter uma perspectiva de vida menos positiva, incluindo níveis mais baixos de bem-estar emocional e social do que as gerações anteriores. Um em cada quatro participantes da pesquisa pertencentes à Geração Z declara sentir- se mais estressado emocionalmente (25%), quase o dobro dos níveis relatados pelos participantes da Geração X e Millenials (13% cada), e mais do que o triplo dos níveis relatados pelos entrevistados da geração Baby boomer (8%)3. E a pandemia da COVID-19 amplificou esse desafio (ver box “Impacto desproporcional da pandemia da COVID-19”). Embora as pesquisas com consumidores sejam subjetivas e a Geração Z não seja a única a enfrentar dificuldades, os empregadores, educadores e líderes de saúde pública podem considerar o sentimento dessa geração emergente à medida que fazem planos para o futuro.

Em nossa amostra, os participantes da Geração Z tinham maior probabilidade de declarar terem sido diagnosticados com uma condição de saúde comportamental (por exemplo, transtorno mental ou por uso de substâncias) do que os da Geração X ou Baby boomers4. Os participantes da Geração Z também apresentaram probabilidade duas a três vezes maior do que os das outras gerações de afirmar ter tido pensamentos, planos ou tentativa suicídio no período de doze meses entre o final de 2019 e o final de 2020.

A Geração Z também reportou mais necessidades sociais não atendidas do que qualquer outra geração5. Cinquenta e oito por cento dos participantes da Geração Z relataram duas ou mais necessidades sociais não atendidas, em comparação com 16% das pessoas das gerações anteriores. As necessidades sociais percebidas como não atendidas, tais como renda, emprego, educação, alimentação, transporte, assistência social e segurança, são associadas aos índices mais altos reportados em relação a condições de saúde comportamental. Como revelou um recente estudo nacional, as pessoas com questões de saúde mental tinham probabilidade duas vezes maior de apontar alguma necessidade básica não atendida do que aquelas com a saúde mental preservada e tinham probabilidade quatro vezes maior de ter três ou mais necessidades básicas não atendidas6.

À medida que esses jovens adultos buscam desenvolver sua resiliência, as pessoas da Geração Z podem vir a buscar a abordagem holística que esperam em relação à saúde, a qual inclui saúde física, saúde comportamental e necessidades sociais como futuros alunos, trabalhadores e consumidores.


Características dos consumidores da Geração Z no ecossistema de saúde

As necessidades específicas da Geração Z sugerem que a melhoria de sua saúde comportamental exigirá que os stakeholders aumentem o acesso e ofereçam serviços adequados e oportunos.

A Geração Z tem menor probabilidade de buscar ajuda

Os participantes da Geração Z tinham maior probabilidade de reportar um diagnóstico de saúde comportamental, mas menor probabilidade de declarar a busca de tratamento em comparação com outras gerações (Quadro 1). Por exemplo, a Geração Z: tem probabilidade 1,6 a 1,8 vez maior de não buscar tratamento para uma condição de saúde comportamental do que os Millenials. Existem vários fatores que podem explicar o fato de a Geração Z não buscar ajuda: o estágio de desenvolvimento, a desconexão com o cuidado da própria saúde, a percepção de acessibilidade e a estigmatização associada a transtornos mentais ou por uso de substâncias em suas famílias e comunidades7.

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Os participantes da Geração Z foram identificados como menos engajados no cuidado da própria saúde do que outros participantes (Quadro 2). Cerca de dois terços dos participantes da Geração Z se enquadraram em segmentos de consumidores com baixo engajamento com cuidados de saúde em comparação com metade dos participantes de outras gerações. A Geração Z e outras pessoas nesses segmentos menos engajados reportaram que sentem que têm menos controle sobre a própria saúde e seu tempo de vida, são menos conscientes da saúde e menos proativas em relação à manutenção de uma boa saúde. Um terço dos participantes da Geração Z se enquadrou no segmento menos engajado, que reportou a mais baixa motivação para melhorar a própria saúde e maior desconforto ao falar sobre seus desafios de saúde comportamental com profissionais de saúde8.

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Outra alavanca do baixo nível de busca de ajuda por parte da Geração Z pode ser a percepção de acessibilidade dos serviços de saúde mental. Um em cada quatro participantes da Geração Z afirmou que não poderia pagar por serviços de saúde mental, os quais suscitaram a menor percepção de acessibilidade de todos os serviços pesquisados9. Em geral, os norte-americanos com transtornos mentais e por uso de substâncias têm uma parcela desproporcional de custos desembolsados com serviços de saúde por uma série de razões, incluindo o fato de que muitos provedores de saúde comportamental não aceitam seguros10. “Encontrei a terapeuta perfeita para mim, mas não podia pagá- la, mesmo tendo seguro”, disse um participante da Geração Z. “A maior barreira para se ter acesso a tratamentos de saúde mental tem sido financeira”, acrescentou outro.

Além disso, o estigma associado a transtornos mentais e por uso de substâncias, bem como a falta de apoio da família podem representar uma barreira significativa à busca por serviços de saúde mental. Muitas pessoas da Geração Z dependem dos pais para ter seguro de saúde e acesso a transporte, e podem ter medo de falar com eles sobre questões de saúde mental. Este fator é particularmente relevante em comunidades negras, que afirmam perceber um nível mais elevado de estigma associado a condições de saúde comportamental11. Filhos de imigrantes também podem sentir culpa pelos sacrifícios dos pais ou podem ter suas questões de saúde comportamental minimizadas por eles ao afirmarem ou acreditarem que os filhos “têm a vida muito mais fácil” do que eles tiveram quando eram jovens12.


A Geração Z recorre ao atendimento de emergência, às redes sociais e a ferramentas digitais quando busca ajuda

Quando realmente procuram apoio para tratar de questões de saúde comportamental, a Geração Z pode não recorrer a serviços regulares de saúde mental ambulatorial e, em vez disso, pode buscar serviços de atendimento de emergência, recorrer às redes sociais ou a ferramentas digitais.

As pessoas da Geração Z recorrem a locais de cuidados intensivos com mais frequência do que as gerações anteriores – os participantes da Geração Z têm probabilidade de uma a quatro vezes maior de reportar o uso de unidades de pronto- socorro e probabilidade duas a três vezes maior de declarar ter usado serviços de acolhimento durante crises ou de atendimento de urgência de saúde comportamental nos últimos 12 meses. A Geração Z também constitui quase três quartos dos usuários do Crisis Text Line13. Uma participante da Geração Z expressou sua frustração dizendo: “Parece que a única opção é ir ao atendimento de emergência, caso contrário tenho que esperar semanas para ver um psiquiatra".

Quase uma em cada quatro pessoas da Geração Z também relatou que é “extremamente” ou “muito” desafiador obter ajuda durante uma crise de saúde comportamental. Essa falta de acesso é preocupante para uma geração com probabilidade de duas a três vezes maior de relatar ter buscado tratamento devido a pensamentos suicidas ou tentativa de suicídio nos últimos 12 meses do que qualquer outra geração.

Muitas pessoas da Geração Z também indicaram que seu primeiro passo para lidar com os desafios de saúde comportamental era acessar o TikTok ou Reddit para obter o aconselhamento de outros jovens, assim como terapeutas no Instagram ou baixando aplicativos relacionados. Essa dependência das redes sociais pode ser atribuída, em parte, à escassez de provedores desse tipo de serviço em muitas regiões dos Estados Unidos: 64% dos condados apresentam escassez de prestadores de serviços de saúde mental. Além disso, 56% dos condados não contam com psiquiatras (o que corresponde a 9% do total da população) e 73% dos condados (correspondendo a 19% do total da população) não contam com profissionais de psiquiatria infantil e do adolescente14.


A Geração Z está menos satisfeita com os serviços de saúde comportamental que recebe

As pessoas da Geração Z afirmam que o sistema de saúde comportamental em geral não está atendendo suas expectativas – aqueles que receberam serviços de saúde comportamental tinham menos probabilidade de manifestar satisfação com os serviços recebidos do que as outras gerações. Por exemplo, em comparação com as gerações anteriores, a Geração Z reportou menor satisfação com os serviços de saúde comportamental recebidos no ambulatório de aconselhamento/terapia (3,7 de 5,0 para a Geração Z, em comparação com 4,1 para a Geração X) ou ambulatório intensivo (3,1 para a Geração Z, em comparação com 3,8 para as gerações anteriores)15. Um participante da Geração Z afirmou que “a dificuldade para encontrar um psicólogo com quem eu me sinta confortável e que se importe o suficiente para se lembrar do meu nome e do que fizemos na semana anterior” foi a barreira mais significativa ao atendimento. Outro disse: “Tenho questões de confiança e acho difícil falar com terapeutas sobre os meus problemas. Também tive uma experiência péssima com um terapeuta, o que piorou esse problema”.

Embora tenhamos observado uma alta penetração de telemedicina em psiquiatria (a participação de consultas médicas e ambulatoriais online foi de 50% em fevereiro de 2021)16, a Geração Z apresenta o menor índice de satisfação com as consultas online de saúde comportamental (classificando-as com 3,8 de 5,0, em comparação com as gerações anteriores, que as classificaram com 4,1 de 5,0), assim como com aplicativos/ ferramentas digitais (3,5 de 5,0 da Geração Z, em comparação com 4,0 das gerações anteriores)17. Em relação à telemedicina, as pessoas da Geração Z citaram os motivos da insatisfação, por exemplo, a sensação de que é “menos oficial” ou “menos profissional” e a dificuldade de estabelecer um relacionamento de confiança com o terapeuta. Com relação aos aplicativos, os participantes da Geração Z observaram uma falta de personalização e de diversidade racial e étnica, tanto dos casos que eles mostravam quanto dos problemas abordados pelas ferramentas oferecidas por esses aplicativos. Ao criar e aperfeiçoar ferramentas de saúde comportamental, é fundamental adotar uma abordagem de desenho centrada no usuário para desenvolver funcionalidades e experiências que a Geração Z realmente deseja.

Ao criar e aperfeiçoar ferramentas de saúde comportamental, é fundamental adotar uma abordagem centrada no usuário para desenvolver funcionalidades e experiências que a Geração Z realmente deseja.

A Geração Z valoriza a diversidade ao escolher um provedor de serviços de saúde

A diversidade racial e étnica dos profissionais de saúde comportamental também é importante. Segundo a Pesquisa da McKinsey sobre o consumidor durante o COVID-19, participantes de minorias raciais e étnicas reportaram valorizar a diversidade racial e étnica ao escolher um médico e citaram a raça de seus médicos mais frequentemente do que os participantes brancos como sendo um aspecto de consideração18. Como a Geração Z se importa profundamente com a diversidade, existem oportunidades para integrar o atendimento e a intervenção precoce oferecendo uma força de trabalho de saúde comportamental mais diversa em termos raciais e étnicos, bem como ferramentas digitais culturalmente relevantes.


Potenciais ações de stakeholders para abordar as necessidades da Geração Z

Em nosso artigo Unlocking whole person care through behavioral health (Destravando a atenção integral por meio da saúde comportamental, em tradução livre), descrevemos seis ações potenciais e integrais para a melhoria da qualidade do atendimento e da experiência de milhões de pessoas com condições de saúde comportamental. Muitas dessas alavancas se aplicam à Geração Z, mas é necessária uma maior adaptação para atender as necessidades desta geração emergente. Áreas promissoras a serem exploradas podem incluir: o papel emergente do canal digital e da telemedicina; a necessidade de uma resposta mais sólida e baseada na comunidade para as crises de saúde comportamental; o melhor atendimento às necessidades da Geração Z nos lugares onde moram, trabalham e frequentam a escola; a promoção do conhecimento sobre a saúde mental; o investimento em saúde comportamental em paridade com a saúde física; e o apoio a uma abordagem holística que contemple os aspectos comportamentais, físicos e sociais da saúde.


Necessidade de ação imediata

A Geração Z é nossa próxima geração de líderes, ativistas e políticos. Muitas pessoas dessa geração já assumiram responsabilidades da vida adulta ao iniciarem movimentos relacionados às mudanças climáticas, liderarem marchas pela justiça social e impulsionarem as empresas a se aproximarem de seus valores. Líderes, educadores e empregadores do setor de serviços de saúde têm um papel a desempenhar no apoio à saúde comportamental da Geração Z. Se adotarem uma abordagem geracional customizada ao criarem mensagens, produtos e serviços, os stakeholders podem melhorar significativamente a saúde comportamental das pessoas da Geração Z, ajudando-as a alcançar seu pleno potencial. Isto pode ser visto como um “investimento antecipado” em nosso futuro, que trará retornos sociais e econômicos nos próximos anos.

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